Hoje passei uma tarde absolutamente sofrível. Porquê?
Hum... vamos lá ver se percebem.
O cenário - uma "actividade de natal" promovida pela autarquia para as escolas do 1º ciclo do concelho.
Os ingredientes...
... um palhaço sem graça (Esperem. Há palhaços com graça?).
... um "avô" que veste jardineiras e canta, com movimentos que tanto podem ser resultado das dores nas ancas como pura palermíce.
... muitas músicas estupidificantes, com muitos "a-e-i-o-u's", "yes's", "inhos" e "inhas", "baril", generalizações descontextualizadas e uma dose de "lavagem cerebral".
... perguntas idióticas.
... décibeis acima do suportável.
... discursos demagógicos e paternalistas.
No decorrer do "espectáculo" distraí-me a observar os miúdos das minhas turmas... muitos estavam em êxtase, outros [diz ela com alívio] a apanhar uma seca descomunal. O Guilherme e o Pedro, de carapuço na cabeça mantinham-se sentados, pés em cima dos bancos da frente e uma expressão de desinteresse total. Não consegui deixar de lhes achar graça e de lhes dar mentalmente uma palmadinha nas costas, bem como ao Gil. São poucos os que remam contra a maré. Em qualquer área.
Fiquei a pensar. Mas porque é que não dão a conhecer aos miúdos coisas realmente interessantes? Com conteúdo. Imprevisíveis. Pedagógicas. Palermas e tontas sem serem estúpidas. Inteligentes. Com cenários e
props bem construídos. Ficam alguns exemplos
aqui e
aqui e mais
aqui e por aí afora...
Ontem estava a ouvir os mais recentes CDs que adquiri e a pensar... "Boa. Ainda se faz boa música infantil em português". Infantil sem ser infantilizante, se é que me faço entender. Que apela à imaginação. Que aposta na qualidade e variedade de instrumentos e sonoridades. Que é "ouvível" tanto pelos miúdos quanto pelos graúdos.
Trocadilhar, dos BuscaPólos e
Ao contrário, de Madalena Correia de Matos. A estes junto, por exemplo, um outro, do Júlio Pereira -
Faz de Conta.
E esta é a letra da música que vou partilhar com algumas turmas amanhã...
Depois de Dezembro
vem um mês chamado Onzembro,
com trinta e dois dias
a pôr nas mãos vazias
ponteiros de hora e meia
que fazem da luz cheia
um espelho de espelhar as caretas do luar...
[letra: José Jorge Letria / música: BuscaPólos]