Monday, December 13, 2010

{desabafo - a continuação}

para os dois ou três leitores que ainda têm a paciência de espreitar por esta janela do sótão... isto é um desabafo, porque tenho os olhos cansados de passarem por alguns textos que leio, por curiosidade em saber o que move as pessoas.

'ser feliz' parece-me ser um dos deuses deste século. a felicidade a todo o custo. a sua busca desesperada já foi retratada em incontáveis livros, filmes, séries e cada um tem a sua teoria.
os livros de auto-ajuda enchem as estantes como uma praga e entornam-se, blog-sim-blog-não, comentários a louvar os ditos. são técnicas atrás de técnicas para seres feliz, para encontrares o teu 'eu', para aprenderes a amar quem és. hábitos, rotinas, rituais para te sentires melhor, para realizares todos os teus sonhos, para encontrares a paz e o equilibrio interior, para teres sucesso, para seres o centro do teu universo.
é só a mim que isto me parece tremendamente egoísta? "a MINHA felicidade depende de MIM e quero-a JÁ!". [até me apetece dizer uma palavra feia. hum, pode ser 'trigonometria'.] e percebo que muito boa gente esteja tão desesperada por se sentir completa que nem sequer se aperceba deste 'pormenor'.

a mim deixa-me triste quando a prioridade de alguém, o seu objectivo de vida é ser feliz.  por outro lado, fico aliviada por saber que a minha felicidade não depende de mim, não depende das circunstâncias nem de uma qualquer demanda interior. surpreendentemente também não depende dos outros à minha volta. sejamos realistas por uma fracção de momento, os nossos maiores esforços no sentido de fazer alguém feliz são muitas vezes falhados - ora porque somos basicamente imperfeitos, ora porque a percepção do outro é diferente da nossa.

tenho que terminar 'on a happy note'. sou feliz. é verdade, sou. mas não sou feliz à conta  de ter uma vida perfeita e imaculada, uma mentalidade muito zen ou de uma auto-estima  (urgh, só a palavra já me dá comichão) acima da média.
sou feliz porque o Criador me faz feliz. sou feliz por saber que neste universo em permanente mudança há uma constante imutável, por saber que há esperança. num mundo em que há um novo paradigma a cada minuto e em que uma teoria substitui a outra ad eternum, esta verdade traz-me uma paz e um conforto difícil de pôr em palavras.

como o 'meu' amigo C. S. Lewis disse uma vez (e já partilhei aqui noutra ocasião), Se encontro em mim um desejo que nenhuma experiência deste mundo pode satisfazer, a explicação mais provável é a de que fui criado para outro mundo.
e ainda:
Os livros ou a música, onde pensamos estar a beleza, nos trairão se confiarmos neles... Pois eles não são a coisa em si; eles são o aroma de uma flor que não encontramos, o eco de um tom que ainda não ouvimos, notícias de um país que nunca visitámos.

fica muito por dizer, mas por agora é suficiente para digerir.

[uma possível banda sonora para este post, já a partilhei noutra altura também. aqui.]

p.s.: há uma pessoa que, possivelmente sem saber, também é responsável por este post - a mãe. quando eu era miúda, ofereceu-me um pequeno poster que marcou a minha pré-adolescência e adolescência. o poster dizia de uma forma muito simples [simplista?] "a verdadeira felicidade é fazer os outros felizes" e apesar de ser uma expressão incompleta, não deixa de ser verdadeira.   

7 comments:

MissGarfield said...

vim aqui ter via "canto do jo" e conquistaste-me com este post, memso ainda nao tendo lido mais nada!
a segunda citaçao que fazes tambem e do c.s. lewis?

zarah said...

obrigada pela visita :)

sim, são as duas do C. S. Lewis. um favorito. era daqueles pensadores com quem gostava de ter bebido um chá.

Rute Carla said...

that`s it! em cheio!

Charlotte said...

Subscrevo tudo aquilo que disseste. Gosto muito do teu blog.

Bjos,
Charlotte

Renata Marques said...

É por isso que somos "extra terrestres", estamos mas não pertencemos a este mundo.

Renata

Anonymous said...

Eis um post em que tenho mesmo de comentar. Então agora critica-se o esforço que as pessoas fazem para serem felizes?!

Pelo que vi, falas muito em Deus e depois dizes " a mim deixa-me triste quando a prioridade de alguém, o seu objectivo de vida é ser feliz."...!!

Nem todas as pessoas têm vidas fáceis, sabes? A maior parte até, tem de lutar diariamente para se manter a si e aos que ama com o mínimo de qualidade de vida. Achas que era melhor ser infeliz e arranjar problemas com toda a
gente!?

Nem toda a gente teve um acompanhamento durante o crescimento para que possa ser um adulto saudável, com auto-estima, como dizes. Procurar livros ou um psicólogo é um problema?

TODOS temos direito a ser felizes porque estamos vivos desde, obviamente, que NUNCA façamos mal a ninguém no caminho.

Este post é de muito mau gosto e deixou-me profundamente mal disposta! Se és feliz, como dizes, porque te dás ao trabalho de escrever um texto que critica a procura de felicidade?!

Deixo o meu comentário anónimo porque também não identificas a quem te referes.

Fica bem

zarah said...

obrigada pelo comentário.
naturalmente sei que há vidas muito difíceis (lido com muitas diariamente). não percebo totalmente porque é que o referiste, uma vez que o post não o contradiz.

é claro que procurar livros ou um psicólogo não é problema (dependendo dos livros e do psicólogo). só que muitas vezes, as terapias centram-se tanto no EU que me fazem confusão, entendes? acredito sinceramente que algumas das melhores terapias têm a ver com as pessoas sentirem-se úteis, úteis a outros.

sabes, no fundo, não critico a procura de felicidade. critico, sim, a forma como essa procura é feita.
um dos meus maiores desejos para as pessoas que amo, para as pessoas que encontro ou com quem me cruzo, para os "meus" pequeninos alunos que amo de paixão (e que têm muitos deles vidas demasiado complicadas para escrever num comment) é que sejam verdadeiramente felizes. mas não uma felicidade oca. não uma felicidade que se alimente da auto-satisfação constante. uma felicidade genuína, sabes? e quem me conhece bem sabe bem do que estou a falar. sinto-me feliz se puder ser instrumento para ajudar alguém a ser feliz. e a felicidade genuína está lá, mesmo nas situações mais difíceis. é uma segurança.

mesmo quando estou triste, quando passo por situações que, por opção minha não fazem parte deste blog nem farão, posso sentir-me feliz e segura. não é aquela felicidade de estar sempre a sorrir e aos pulos.

naturalmente não me vou pôr a referir nomes, isso sim seria de muito mau gosto. até porque respeito e gosto de muitas dessas pessoas.

o que desejo a ti, também, quem quer que sejas, é que sejas feliz :)