para os dois ou três leitores que ainda têm a paciência de espreitar por esta janela do sótão... isto é um desabafo, porque tenho os olhos cansados de passarem por alguns textos que leio, por curiosidade em saber o que move as pessoas.
'ser feliz' parece-me ser um dos deuses deste século. a felicidade a todo o custo. a sua busca desesperada já foi retratada em incontáveis livros, filmes, séries e cada um tem a sua teoria.
os livros de auto-ajuda enchem as estantes como uma praga e entornam-se, blog-sim-blog-não, comentários a louvar os ditos. são técnicas atrás de técnicas para seres feliz, para encontrares o teu 'eu', para aprenderes a amar quem és. hábitos, rotinas, rituais para te sentires melhor, para realizares todos os teus sonhos, para encontrares a paz e o equilibrio interior, para teres sucesso, para seres o centro do teu universo.
é só a mim que isto me parece tremendamente egoísta? "a MINHA felicidade depende de MIM e quero-a JÁ!". [até me apetece dizer uma palavra feia. hum, pode ser 'trigonometria'.] e percebo que muito boa gente esteja tão desesperada por se sentir completa que nem sequer se aperceba deste 'pormenor'.
a mim deixa-me triste quando a prioridade de alguém, o seu objectivo de vida é ser feliz. por outro lado, fico aliviada por saber que a minha felicidade não depende de mim, não depende das circunstâncias nem de uma qualquer demanda interior. surpreendentemente também não depende dos outros à minha volta. sejamos realistas por uma fracção de momento, os nossos maiores esforços no sentido de fazer alguém feliz são muitas vezes falhados - ora porque somos basicamente imperfeitos, ora porque a percepção do outro é diferente da nossa.
tenho que terminar 'on a happy note'. sou feliz. é verdade, sou. mas não sou feliz à conta de ter uma vida perfeita e imaculada, uma mentalidade muito zen ou de uma auto-estima (urgh, só a palavra já me dá comichão) acima da média.
sou feliz porque o Criador me faz feliz. sou feliz por saber que neste universo em permanente mudança há uma constante imutável, por saber que há esperança. num mundo em que há um novo paradigma a cada minuto e em que uma teoria substitui a outra ad eternum, esta verdade traz-me uma paz e um conforto difícil de pôr em palavras.
como o 'meu' amigo C. S. Lewis disse uma vez (e já partilhei aqui noutra ocasião), Se encontro em mim um desejo que nenhuma experiência deste mundo pode satisfazer, a explicação mais provável é a de que fui criado para outro mundo.
e ainda:
Os livros ou a música, onde pensamos estar a beleza, nos trairão se confiarmos neles... Pois eles não são a coisa em si; eles são o aroma de uma flor que não encontramos, o eco de um tom que ainda não ouvimos, notícias de um país que nunca visitámos.
fica muito por dizer, mas por agora é suficiente para digerir.
[uma possível banda sonora para este post, já a partilhei noutra altura também.
aqui.]
p.s.: há uma pessoa que, possivelmente sem saber, também é responsável por este post - a mãe. quando eu era miúda, ofereceu-me um pequeno poster que marcou a minha pré-adolescência e adolescência. o poster dizia de uma forma muito simples [simplista?] "a verdadeira felicidade é fazer os outros felizes" e apesar de ser uma expressão incompleta, não deixa de ser verdadeira.